parabola_mentira_e_verdade

O texto abaixo é atribuído a uma parábola judaica sobre a verdade e a mentira.

Por certo reproduz muitas das situações que diariamente enfrentamos em nosso cotidiano, em que os cenários que se nos apresentam nem sempre são aquilo que aparentam ser. Ei-la, pois!

Certa vez, a Mentira e a Verdade se encontraram.

A Mentira, dirigindo-se à Verdade, disse-lhe:

– “Bom dia, dona Verdade!”

Zelosa de seu caráter, a Verdade, ouvindo tal saudação, foi conferir se realmente era um bom dia. Olhou para o alto, não havia nuvens de chuva; os pássaros cantavam; não havia cheiro de fumaça na mata; tudo parecia perfeito.

Tendo se assegurado de que realmente era um bom dia, respondeu:

– “Bom dia, dona Mentira!”

– “Está muito calor hoje, não é mesmo”, disse a Mentira.

Realmente o dia estava quente demais. Desse modo, vendo que a mentira estava sendo sincera, começou a relaxar, a “baixar a guarda”. Por qual razão haveria de desconfiar, se a Mentira parecia tão cordial e “verdadeira”?

Diante do calor insuportável, a Mentira, num gesto de aparente amizade, convidou a Verdade para juntas banharem-se no rio.

Como não havia mais ninguém por perto, a Mentira despiu-se de suas vestes, pulou na água e, dirigindo-se à Verdade, disse-lhe, insistentemente:

– “Vem, dona Verdade, a água está uma delícia, simplesmente maravilhosa.”

O convite parecia irrecusável. Assim sendo, dona Verdade, sem duvidar da Mentira, despiu-se de suas vestes, pulou na água e deu um bom mergulho.

Ao ver que a Verdade havia saltado na água, rapidamente a Mentira pulou para fora, em segundos vestiu-se com as roupas da Verdade que estavam à margem e se mandou sorrateira.

Tendo suas roupas furtadas, a Verdade saiu da água e, por sua vez – ciosa de sua reputação -, recusou-se a vestir-se com as roupas da Mentira, deixadas para trás.

Certa de sua pureza e inocência, nada tendo do que se envergonhar e não tendo outra opção que lhe fosse coerente, saiu nua a caminhar na rua.

Quadro: "A verdade saindo do poço" Jean-Leon Gérôme, 1896
Quadro: “A verdade saindo do poço” Jean-Leon Gérôme, 1896

Desde então, aos olhos das pessoas, ficou mais fácil aceitar a Mentira vestida com as roupas da Verdade do que aceitar a Verdade nua e crua.

A reflexão é livre

6 Comentários

    • Como veio ao mundo, natural. Algo que não foi mexido, com projeto original. Ou quando se fala a verdade nua e crua; sem rodeios , tudo como aconteceu.

      • Em outra versão, a verdade veste as roupas da mentira e sai mundo afora também. Então, o que muitas das vezes vemos é a mentira com as roupas da verdade e a verdade com as roupas da mentira. Pois, a verdade nua é dolorosa demais para suportar.

  1. Sem enfeites, sem atenuantes, sem minimizar a dureza do fato.
    Verdade nua e crua, verdade sem disfarces, verdade em toda a sua crueldade.

    O cru, no caso, é de cruel, e não de não-cozido.
    Vide o caso de D.Pedro I de Portugal, apelidado de D.Pedro, o Cru – pois tratou com extrema crueldade os assassinos de sua amada, Inês de Castro.

Deixe uma resposta