Depois de quase dois longos anos de espera, a Netflix finalmente liberou a segunda temporada de Mindhunter. A série, baseada em acontecimentos reais, conta a história de investigadores do FBI que começaram a tentar entender o comportamento de assassinos com base na psicologia, chegando então ao termo serial killer, usado até hoje.

Os assassinos cruéis retratados em Mindhunter são reais, assim como suas histórias. Eles aparecem sendo interpretados por atores incrivelmente parecidos com eles, descrevendo algumas etapas perturbadoras de seus crimes e suas motivações.

A primeira temporada de Mindhunter foi voltada para a descoberta e o desenvolvimento de uma técnica, já a segunda é a sua mais pura aplicação. Tecnicamente, os nove episódios se aproveitam da estética fria do cinema de David Fincher para criar não apenas um distanciamento entre os agentes do FBI e os seus entrevistados, mas para deixar no ar um aspecto de tensão que põe o espectador sempre à beira da expectativa. A nova temporada é mais focada e objetiva, sem perder sua característica primordial: apresentar padrões e explicitar como os componentes da Unidade de Ciência Comportamental (UCC) são afetados por seus próprios estudos ou investigações.

Enquanto a primeira temporada trouxe uma série de entrevistas e a criação dos perfis dos serial killers em primeiro plano, a segunda temporada segue o curso natural e usa todo aquele aprendizado para algo mais palpável. Para isso, é imprescindível a apresentação de Ted Gunn (Michael Cerveris), novo diretor do FBI que vê o time de Holden Ford (Jonathan Groff) e Bill Tench (Holt McCallany) com brilho nos olhos. Ele enxerga no estudo conduzido pela UCC uma oportunidade de estabelecer a precisão e o prestígio da agência, e vai pelo caminho mais estratégico: a propaganda. Tench se transforma em sua carta na manga, contando histórias hiperbólicas e detalhadas sobre Charles Manson e Ed Kemper para engravatados, a fim de que o trabalho deles seja alvo de mais recursos e interesse por parte dos que mandam no jogo.

Leia o Review da primeira temporada para saber mais:
Mindhunter: desvendando a mente dos serial killers

Os dez primeiros episódios da série haviam colocado a vida pessoal de Holden no epicentro da trama, sendo o relacionamento dele com a namorada o que servia de espelho para o quão arriscada é a técnica que ele usa para se aproximar dos alvos de sua pesquisa e, acima disso, deixar claros a masculinidade tóxica e o machismo que propulsionaram muitos dos assassinos apresentados naquela temporada.

Ao contrário disso, o novo ano da série apenas sugere continuar olhando para o possível desequilíbrio emocional e psicológico do personagem de Ford, mas logo desvia disso e o deixa como um potente coadjuvante. Seus métodos ainda são erráticos e o transformam em alvo de olhares desconfiados a respeito de sua postura, o que apenas fortalece o interesse no personagem.

Dois aspectos fazem da segunda temporada de Mindhunter um objeto que vence em coesão. O primeiro é tratar do Assassino de Crianças de Atlanta como uma única grande investigação que transpassa por toda a temporada. A segunda é entender que, por mais que todos os eventos em Atlanta passem diretamente por Holden, ele é mais uma conexão entre todos os acontecimentos do que o acontecimento em si.

A consequência imediata disso — e, novamente, positiva — é a bela narrativa da história de Tench e sua família. A complexidade da tragédia com o pequeno Brian (Zachary Scott Ross) é, em termos simplificados, um microverso. É uma análise mais aproximada das origens de um trauma psicológico, e mais uma vez uma forma de aproximar o trabalho dos agentes em campo com suas vidas pessoais. À medida que Tench se esforça cada vez mais para conseguir se dividir entre a investigação em Atlanta e a atenção necessária à família (e claramente fica para trás em ambas), ele vai aos poucos se transformando no que talvez mais o preocupa Holden: a imagem do isolamento.

Trazer Tench para o centro da história traz consequências ricas porque observar a sua fraca tentativa de se conectar com o filho e com a esposa, Nancy (Stacey Roca), é o oposto de vê-lo navegar tranquilamente entre figuras poderosas em um jantar na casa de Ted ou em um retiro de férias. Ele entende e é capaz de conversar com assassinos dos mais cruéis já vistos, mas não consegue tirar uma palavra da boca do filho. Toda a tragédia aqui é que não é surpresa alguma ele chegar em casa e encontrar um lugar vazio.

Mais uma vez, há muitos elementos em curso em Mindhunter. Alguns estão mais à frente da narrativa que outros, e essa mistura de informações que pesam na construção de um perfil psicológico, bem balanceadas em uma história que entende que sua existência é tão complexa como uma mente pode ser, faz com que dissecá-la seja um trabalho desafiador.

Mindhunter está interessada em muitas coisas ao mesmo tempo, e passa por homofobia, opressão, culpa e o enfrentamento da inexatidão das contas. Holden, Tench e Wendy estão ligados pela farsa que montaram para si mesmos; É incômodo ter que olhar de perto para a vida pessoal de cada um deles, porque são repletas dos mesmos fantasmas que os perseguem em suas vidas profissionais. É a capacidade de entender o aspecto inseparável entre os dois lados de quem cada um deles é que faz de Mindhunter uma série endurecida, mas jamais forçada.

Veja a seguir uma lista com os Serial Killers reais que apareceram na segunda temporada (fotos do ator e do serial killer real):

Dennis Rader, o BTK

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Dennis Rader, o BTK, ele se deu esse apelido, que significa “Bind, Torture, Kill”, (amarrar, torturar, matar), devido à forma que matava as suas vítimas. Seus crimes aconteceram entre um longo período, de 1974 a 1991, na área de Wichita, estado do Kansas, assassinando 10 pessoas no total. Os planos de BTK envolviam assassinar mais uma pessoa em 2004, mas, felizmente, ele não coneguiu executar o plano.

Dennis gostava de enviar cartas para se comunicar com as autoridades, enviando também símbolos e dicas, mas sendo bastante debochado com a situação.

Um dos fatos mais bizarros sobre BTK é que ele gostava de se vestir como suas vítimas, colocando uma corda no pescoço e se enforcando, registrando tudo em fotos, como a imagem real abaixo. O assassino também fazia recortes de revistas com imagens de mulheres e as desenhava como se elas estivessem sendo enforcadas com cordas. Perturbador.

Dennis foi capturado no dia 25 de fevereiro de 2005 e está cumprindo 10 penas de prisão perpétua.

Elmer Wayne Henley

Henley ajudou, nos anos 1970, Dean Corll (também conhecido como Candyman) a sequestrar, torturar e estuprar pelo menos 28 garotos na área de Houston, no Texas. Aos 17 anos, Henley se revoltou contra o parceiro e o matou com tiros.

Elmer Wayne Henley é entrevistado em Mindhunter por Wendy Carr e, antes dos acontecimentos da série, os crimes cometidos pela dupla ainda não estavam classificados na categoria serial killer. O caso se tornou, na época, o pior e mais chocante da história de Houston.

Henley acabou sendo capturado pela polícia e indiciado pelo assassinato de seis vítimas de Corr, cumprindo penas de mais de 99 anos de prisão. Também foi preso David Brooks, que se entregou à polícia se acusando de ter participado dos assassinatos.

David Berkowitz, o Son of Sam

David Berkowitz, o Son of Sam. O serial killer matou pela primeira vez aos 23 anos e, em poucos meses, atacou mais de 12 pessoas, matando seis delas e ferindo o restante.

Como David conta na entrevista retratada no seriado, ele não tinha um alvo predefinido, somente saía com o seu carro e disparava tiros na janela de carros estacionados ou que estivessem circulando pelas ruas. Ele justificou seus atos dizendo que estava possuído por um demônio que o ordenava a matar, mas no fim tudo não passava de uma mentira.

Edmund Kemper

Kemper que também estava presente na primeira temporada da serie é, possivelmente, o serial killer que mais aparece na série até então. Com apenas 15 anos, ele assassinou os seus avós e foi internado em uma clínica de cuidados mentais, permanecendo por lá durante seis anos. No entanto, não demorou muito para que ele voltasse a matar.

Entre os anos de 1972 e 1973, Edmund matou oito pessoas, sendo cinco estudantes universitárias. Ele não se contentava somente em matar, então removia partes dos corpos das vítimas e fazia atos sexuais. A última pessoa que foi assassinada por Kemper foi a sua mãe, em 1973, e logo depois ele decidiu se entregar à polícia.

Paul Bateson

A história de Paul Bateson traz um fato bastante curioso. O criminoso, que assassinou a jornalista Addison Verill do site Variety, em setembro de 1977, possui uma relação com o filme O Exorcista. Ao contrário de Son of Sam, — que diz que o filme não é uma mentira e que demônios podem possuir pessoas e exigir que elas matem — Bateson tem uma conexão real com o filme, mas sem envolver a paranormalidade. Ele atuou como figurante no filme O Exorcista, de 1973, como um radiologista em uma cena.

O caso de Bateson envolve uma série de assassinatos de jovens homossexuais, mas até hoje não conseguiram provar se ele também tem relação com essas mortes. Ele ganhou liberdade condicional em 2003. Hoje, ninguém sabe onde ele está ou se ainda está vivo.

William Joseph Pierce, Jr.

A carreira criminosa de William começou com a sua prisão por roubo, em 1970. Após ser liberado antes mesmo de terminar a pena, que poderia chegar a até 20 anos, ele não demorou um mês para cometer um novo crime: um assassinato. Então, entre os anos de 1970 e 1971, fez oito vítimas fatais. William Jr. foi preso ainda em 1971 e condenado à prisão perpétua. Ainda vivo, cumpre a sua pena na Geórgia.

Tex Watson

Watson foi um seguidor de Charles Manson, uma das pessoas que sujavam a mão com as matanças a pedido do líder. O criminoso participou de vários assassinatos e foi condenado à pena de morte junto com Manson, mas ambos tiveram a sentença reduzida para prisão perpétua.

Tex Watson morreu na prisão em 2017, aos 83 anos. O assassino, assim como Charles Manson, também aparece no filme Era Uma Vez… em Hollywood.

William Henry Hance

Hance fez parte de um dos crimes que mais chamaram a atenção nos anos 1960 e 1970 nos Estados Unidos. Como ex-fuzileiro naval, em 1978 foi condenado pelo assassinato de três mulheres na Geórgia em bases militares. O assassino foi condenado à pena de morte, mesmo alegando à Justiça que tinha problemas mentais. William foi executado em 1994 na cadeira elétrica.

Wayne Williams

O grande foco da segunda temporada de Mindhunter é no assassino Wayne Williams, envolvido nos crimes de assassinato de garotos em Atlanta. Suspeito de sequestrar e matar quase 30 crianças na capital do estado norte-americano da Geórgia, ele foi capturado e condenado apenas por dois crimes, de jovens adultos. Até hoje não foi possível relacionar os crimes a Wayne e nem a nenhuma outra pessoa.

Bonus:

Charles Manson

Charles Manson na verdade não é considerado um serial killer, pelo simples fato de não ter matado ninguém, apenas ordenado. Manson, que nunca sujou as mãos de sangue, foi um dos criminosos mais famosos da história, então, mesmo com toda a crueldade envolvendo os seus crimes, não há como não se empolgar em entender o que se passa em sua cabeça e em suas atitudes. A entrevista foi, de fato, um dos pontos mais altos da temporada.

Curiosidade: o ator o australiano Damon Herriman, interpretou Manson em duas produções que acabaram de estrear: no seriado Mindhunter e no filme de Tarantino Era Uma Vez em… Hollywood.

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