Não queremos todos ser felizes? Então porque razão na grande maioria das vezes estamos longe deste sentimento? A felicidade é a nossa verdadeira natureza (Adaptação hedónica – adaptação natural a acontecimentos considerados positivos e prazerosos). São os sentimentos que persistem naqueles momentos preciosos, quando os nossos pensamentos negativos, preocupações persistentes, hábitos auto-sabotadores, e emoções incapacitantes desaparecem. Quando somos verdadeiramente felizes, estamos contentes, entusiasmados, e vivos.
Temos em nós uma tendência natural para procurar o bem-estar e conforto, afastamo-nos do sol quando temos calor, protegemo-nos quando temos frio, alimentamo-nos quando temos fome, a lista é interminável. Procuramos todos um profundo sentimento de bem-estar, satisfação e realização.

Então como podemos conquistar e manter esta “natureza” que caminha conosco diariamente?

Para que isso possa acontecer tem de existir uma revolução interna, uma mudança radical na forma como vemos a realidade. Quando questionamos as nossas certezas acerca do mundo e deixarmos de dar as nossas reações emocionais por garantidas, uma nova e renovada forma de ser acontecerá. Você quer trabalhar para a sua felicidade? Considere o que se segue, e prepare-se para dar alguns passos para construir e sedimentar a sua felicidade.

Conceito 1: Da vida inconsciente à vida consciente

O nosso corpo é um mundo de sensação, é sedento de sensações e emoções. O objetivo final de qualquer ato ou pensamento é sentir uma emoção, está por sua vez é traduzida através da palavra num sentimento. Todos queremos sentir algo face a qualquer coisa a todo o tempo e em qualquer circunstância, é assim que o cérebro grava o que nos serve, assim como aquilo que não gostamos e pode ser ameaçador ou prejudicial à vida. Muito do nosso comportamento acontece automaticamente, fora da consciência. Vivemos esses padrões familiares em automático, podendo estes ser benéficos ou não para a nossa qualidade de vida. Estas tendências condicionadas são profundas, e se o nosso desejo mais profundo é ser feliz, o primeiro passo essencial é ganhar consciência deles.

Precisamos perceber o que realmente está acontecendo na nossa experiência, quando é que os padrões são acionados para assim sabermos aquilo com que estamos a lidar – histórias de vida, sensações corporais, emoções e reações dos que nos rodeiam. Podemos então perguntar: “É isto o que eu realmente quero?”

Desenvolver consciência acerca das experiências da nossa vida abre-nos a possibilidade para a mudança. Quando verificamos que um hábito está começando se sedimentar, temos a oportunidade de perceber se o deveremos deixar implementar ou não, caso seja negativo não deveremos deixá-lo perpetuar-se. Em consciência, somos mais flexíveis e mais abertos para responder de forma afirmativa na nossa vida.

Quando começamos a tornarmo-nos mais conscientes, nem sempre podemos gostar do que vemos. Mas o que rapidamente se torna evidente é a oportunidade de viver uma vida que já não é governada por motivos inconscientes e hábitos que parecem estar fora do nosso controlo. Tornamo-nos totalmente vivos relativamente à nossa experiência, tal qual ela está acontecendo. Minimizando as resistências ao máximo, a felicidade tem um espaço acolhedor e fértil para florescer. O ato de nos conhecermos, aceitando conscientemente quem somos, permite-nos mudar aquilo que achamos necessário para caminharmos no sentido de uma felicidade sustentada.

A atitude que temos face ao conceito felicidade pode ser analisado numa questão muito simples. Por vezes as pessoas dizem:

  • “quando eu tiver ______ vou ser feliz”,
  • “quando eu atingir ______ vou ser feliz”.

Se mudarmos a afirmação para uma pergunta, ficará algo do gênero:

  • “O que é que eu tenho de fazer para ser feliz”.
  • “O que é que eu me proponho a mudar para ser feliz”.

A atitude de nos questionarmos é capacitadora e desperta a ação intencional face ao objetivo, a felicidade.

Dica: Quando ganhar Consciência do que quer fazer e em que grau quer contribuir para ser feliz, estará mais perto da felicidade.

Conceito 2: Olhar para fora, para olhar para dentro

Para a grande maioria de nós, a forma de resolver um problema é tentar remediar algo face à situação ou às outras pessoas. Podemos chamar a isto de: “se pelo menos”.

  • Se pelo menos a minha esposa não me fizesse tantas perguntas,
  • Se pelo menos não chovesse,
  • Se pelo menos eu tivesse mais dinheiro,
  • Se pelo menos eu não tivesse dores”.

Tentamos procurar fora de nós a alteração de uma situação que nos causa problema ou mal-estar. Com esta estratégia raramente somos bem sucedidos porque está fora dos limites do nosso controle. Nós fazemos aquilo que fazemos, e as situações ocorrem espontaneamente.

Uma forma bastante eficaz para afastar, reduzir e eventualmente eliminar as áreas de infelicidade na nossa vida é aquela que menos nos salta à vista – Olharmos para dentro de nós e examinarmos as nossas próprias reações. Peço-lhe que considere isto por alguns instantes. Por exemplo, se o seu parceiro deixa a roupa suja no chão e isso o irrita, iniciando um monólogo carregado de pensamentos maus acerca dele, mesmo que depois tente falar com ele sobre isso, ignorando as roupas ou apanhando-as, verifica que nada mudou a sua reação interna.

O fundamental é não tentar mudar algo do qual não temos controle sobre, por exemplo o comportamento de outra pessoa. Mas poderá examinar as suas próprias reações para compreender a natureza do gatilho que fez disparar aquele conjunto de pensamentos perguntando:

  • O que é que exatamente que está provocando em você,
  • Em que é que o gatilho consiste (pensamentos, emoções, sensações físicas)
  • O que é que você realmente precisa.

Esta pequena investigação individual (no qual você poderá fazer depois de ler o artigo), executada de forma simples e descontraída, fornecer-lhe-á uma enorme quantidade de compaixão e entendimento para utilizar quando você mais necessitar. À medida que as reações forem sendo repetidamente investigadas, elas tendem a perder a sua força e a desaparecer.

Honestamente, é necessário uma grande dose de coragem para nos propormos a fazer o exercício de olharmos para dentro de nós mesmos, para ver em que medida estamos fazendo coisas que contribuem para a nossa infelicidade. É um passo na direção da “insanidade” para a sanidade, de também confiar no mundo exterior para sermos felizes, em descobrir que podemos ser felizes aconteça o que acontecer.

Conceito 3: Deixar de viver no futuro ou no passado para estar no presente

Quando você olha honestamente para os pensamentos sobre o passado e o futuro, irá ver que a maioria deles são baseados no medo, e não na felicidade. Nós preocupamo-nos, analisamos, duvidamos de nós próprios, julgamos, e planeamos obsessivamente. Nós pensamos muito acerca daquilo que necessitamos, daquilo que não temos, e como é que outra situação, para além daquela que está a acontecer, poderia ser muito melhor. Estes pensamentos percorrem a nossa mente vezes sem conta sem que nos sirvam para grande coisa. Algumas destas coisas lhe parecem familiares?

Quando a mente se torna calma, nem que seja por breves momentos, somos invadidos por uma aparente sensação de paz. A alegria emerge sem razão para tal. Sentimo-nos felizes e ligados. A experiência de estar no presente (e na nossa presença) está sempre à nossa disposição. É uma sensação de “voltar para casa” para um lugar que na verdade nunca abandonamos. Pode realmente estar mascarado pelos pensamentos ativos da mente, mas quando nos abstemos de alimentar os pensamentos distorcidos com a nossa atenção, vemos que a realidade está sempre aqui, completamente fiável, nunca perturbada.

A vida é incrivelmente rica. Existem sons, sensações corporais, emoções, sentimentos, locais, e podemos ter grande intimidade com todas as coisas. É quando nós permitimos que apareçam soluções a partir deste espaço pacífico e magnifico (relação entre o mundo, o corpo/mente), que surge uma grande clareza. Passar do passado e futuro da nossa mente para o presente, é o início de estarmos verdadeiramente vivos.

Conceito 4: Do criticismo e julgamento à apreciação e gratidão

Na minha vida pessoal, já passei por momentos de alguma desilusão e incerteza no caminho que segui, assim como situações em que me arrependi da forma como atuei, quer comigo próprio, quer com outras pessoas. Quando surgiu a intenção de tornar-me mais ciente da minha experiência interna (altura em que comecei a ler um autor Indiano – Osho), para meu desgosto, eu notei que meus pensamentos eram frequentemente críticos e cheios de julgamento, e não apenas de pessoas ao meu redor, mas de mim também. Quando comecei a me perceber através da experiência de estar consciente desses pensamentos, eu encontrei negatividade, desconexão e incapacidade. Posteriormente comecei a trabalhar neles e a verificar até que ponto poderiam estar sendo sabotadores de mim mesmo. Depois de perceber quais não estavam me ajudando, passei a ignorá-los, o pensamento crítico diminui. Com algum esforço, eles foram sendo substituídos por uma abertura natural para as pessoas ao meu redor, assim como uma atenção redobrada sobre as minhas reações indesejadas. Sendo que inicialmente era capaz de perceber que diversas vezes estava indo pelo caminho errado, sem nada conseguir fazer, a não ser apenas tomar consciência disso. Passo a passo fui conseguindo antecipar as reações e agir de forma mais ajustada, e benéfica, para mim e para os outros.

Foi aqui que percebi que eu poderia fazer muita coisa.

A técnica é simples: sempre que percebia que não tinha agido da forma que deveria, ou que os pensamentos não eram os mais adequados, de forma imaginada, via-me no mesmo cenário tendo uma resposta assertiva. Emparelhado a esta visão, imaginava ainda a outra pessoa ficando mais satisfeita ou a situação tendo um resultado mais satisfatório. Esta técnica revelou-se muito eficaz, e tem fundamento científico. O nosso cérebro não consegue distinguir entre cenários reais e imaginados, assumindo o que está acontecendo e assim reforçando novos circuitos neuronais, permitindo no futuro e em situações idênticas a ativação dos comportamentos mais adequados, anteriormente imaginados de forma intencional.

Imagino que não estou sozinho em perceber até que ponto a crítica e o julgamento podem tomar conta da nossa atividade mental. Quando se começa a viver com uma consciência mais alargada, observamos oportunidades ilimitadas para ser assertivo conosco e com os outros. Este caminho permite-nos finalmente abandonar os nossos rancores. Mais importante ainda, conseguimos parar a violência que na grande maioria das vezes cometemos contra nós próprios. Sentimo-nos alegres e descontraídos.

Então como deveremos experiênciar a felicidade?

É preciso uma revolução interna. Faça um compromisso de ser consciente na sua vida. Olhe para dentro de si para ficar consciente dos padrões que perturbam o seu bem estar e abandone-os, e assim viva no presente, acorde para a vida e veja ela como é na verdade. Deixe de lado o espírito crítico e depreciativo. A felicidade é aqui mesmo, agora, neste exato momento.

Por Miguel Lucas

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