No século XIX, acreditava-se que as pessoas que sofriam de insanidade mental, estavam alienadas da sua verdadeira natureza. Os especialistas que os estudavam eram, por isso, conhecidos como alienistas. É com esta informação que começa cada um dos 10 episódios que constituem a primeira temporada da série.

A ficção sempre foi fascinada pela psicopatia. Assim como na psicologia, o exercício de tentar descobrir o que faz uma pessoa aparentemente normal matar por prazer e com requintes de crueldade é o material que escritores, roteiristas e diretores usam para criar figuras que, mesmo assustadoras, são cativantes ao ponto de torcermos por elas. The Alienist, é baseada na obra de Caleb Carr e,  foi originalmente transmitida no canal TNT americano e chegou ao Brasil com o selo “Original Netflix”.

No final do século 19 a medicina moderna ainda engatinhava. Métodos e análises que hoje são comuns ainda estavam no limite da descoberta. Muito do misticismo e do preconceito ainda dificultava aos pioneiros em divulgarem suas ideias. A psicologia então, como campo que conhecemos hoje era inexistente. O responsável por entender o que se passava na mente de seus pacientes era o alienista. Tal termo foi cunhado pois se acreditava que uma pessoa que passava por um distúrbio mental tinha se dissociado do seu “eu”, tinha sido alienado.

Neste contexto, o dr. Lazlo Kreizler (Daniel Brühl) é um desses alienistas, que acaba sendo sugado para uma trama perigosa quando um assassino começa a atacar os jovens garotos de programa da cidade. Contando com a ajuda do ilustrador John Moore (Luke Evans) e da primeira mulher na policia nova-iorquina, Sara Howard (Dakota Fanning), o doutor vai descobrir que a linha que separa a sanidade da loucura é tão fina quanto as camadas que escondem os traumas do passado dos diversos personagens.

A série injeta um mistério investigativo num período conturbado para criar um panorama interessante. A trama da série se constrói com fortes bases no terror psicológico e é contada de maneira dinâmica no decorrer dos episódios, para não cansar com várias informações técnicas e discussões aprofundadas sobre a psicologia do assassino. São usadas várias teorias da área da psicologia forense, mostrando a ciência por trás da investigação sem dar as respostas prontas para o espectador.

Não faltam também frases de efeito que nos provocam questionamento sobre o que somos, como agimos, e por quê. A série possui sim algumas insuficiências narrativas como arcos mal resolvidos ou até mesmo sua falta de coesão da história como um todo, mas nem por isso ela deixa de ser uma boa série.

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Os roteiristas sabem como fazer o público permanecer ansioso através de uma atmosfera específica de suspense em torno dos personagens, que, sendo a maioria deles muito bem formulados com qualidades e defeitos, sabe onde criar a identificação.

O protagonista, Dr. Kreizler, é provavelmente o mais interessante de todos. Astucioso, inteligente e ousado, porém também orgulhoso, provocativo e muitas vezes desumilde. Oculta sua sensibilidade por trás de uma máscara intelectual.

Enquanto isso, John Moore é dotado de masculinidade, mas não exatamente de maneira estereotipada e sem escrúpulos. Possui uma alma receptiva e acolhedora.

E por fim temos Sara Howard, uma ambiciosa e dedicada jovem que representa a primeira mulher a ingressar no departamento de polícia de Nova Iorque. A série sabiamente usa a personagem para expor o preconceito e o fortíssimo machismo da época, que colocava a mulher como um mero sexo frágil incapaz de atividades até então “masculinas”.

Utilizar o contexto histórico para criticar problemas modernos é algo que a série também consegue realizar bem. Além do já citado papel da mulher na sociedade, são abordados temas como que como a homofobia, à corrupção policial, e o poder das elites sobre a sociedade.  São diversos momentos em que brilha na tela tais temas, principalmente ao utilizar figuras históricas do período para criar ainda mais contexto, como quando Theodore Roosevelt (Brian Geraghty) tenta lutar a qualquer custo contra o lado negro de sua força policial, mas acaba se rendendo ao processo de aceitar a sujeira presente no processo ou em todos os momentos em que Sara se faz presente, lutando contra as normas e padrões vigentes na época.

A série possui uma ótima linguagem audiovisual. A Nova York apresentada realmente passa a sensação de soberba e decrepitude em cada mansão e em cada beco mal iluminado. Além do perfeito design de produção que dispensa comentários, a belíssima combinação entre seus aspectos permite uma imediata imersão no universo da série.

A fotografia, que com uma estética de câmera fluida e cenários escuros de baixa iluminação, ressalta os becos corruptos e tenebrosos das noites nova-iorquinas; a montagem variada, que propõe cortes rápidos em cenas aceleradas de perseguição, e opta por cortes mais precisos em planos mais demorados, valorizando o suspense da trama e a tensão; e a impactante e atmosférica trilha sonora, que com as composições originais de Rupert Gregson-Williams, deixam o espectador ansioso e sem fôlego nos momentos exatos.

O Alienista traz uma trama repleta de suspense, assassinatos, críticas a sociedade e análises da mente humana. Ficou interessado na série? veja um trailer abaixo

 

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