Alguns temas ainda fazem parte de um tabu na sociedade brasileira. Suicídio é um deles. Ao mesmo tempo, nos últimos anos, com a criação do ‘Setembro Amarelo’, as pessoas estão mais abertas para o assunto e ações preventivas estão cada vez mais presentes.

No entanto, ouvir de um amigo, colega de trabalho ou de um familiar que a pessoa pensa em se matar pode ser surpreendente e há quem não consiga lidar com a situação.

A melhor dica é ouvir quem está em sofrimento, sem julgamentos.

Expressões que diminuem o que a pessoa sente como: “isso não é nada”, “tem gente em situação pior” ou fazer que se sinta ainda mais culpada como: “foi você quem procurou isso” devem ser evitadas porque esse é um momento em que o paciente precisa de acolhimento e não de repreensão.

O diálogo e a transparência são elementos fundamentais na prevenção do suicídio. As teorias recentes defendem que pode haver uma predisposição individual para o suicídio, que é ativada ao longo da vida por experiências negativas precoces (experiências traumáticas) que vão dar origem a um padrão de pensamento negativo. Os números apontam-nos um grande culpado. Mais de 50% das pessoas que se suicidaram sofriam de depressão.

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Situações de separação, divórcio, luto recente, solidão, desemprego, mudança ou perda recente de trabalho, problemas escolares ou laborais, doença grave ou crônica e dependência de drogas e álcool podem, efetivamente, resultar numa resposta negativa e levar ao suicídio.

O que explica a ideação suicida?

Muitas pessoas que pensam sobre o assunto têm a sensação de desesperança e que a única solução disponível seria a morte. O suicídio é o ato mais individual do ser humano. Contudo, como qualquer fenômeno humano, implica um entendimento bio e psicossocial. O isolamento, a sensação de desintegração social e de não pertença detêm um peso significativo na decisão suicida. Quando ajudadas a tempo, as pessoas podem entender que há outras formas de resolver as suas circunstâncias e que há quem se encontre empenhado em ajudá-las.

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Ouvir mais e falar menos: acolhimento é melhor maneira de lidar com pessoas que não desejam mais viver

Ouvir mais e falar menos: frases que não devem ser ditas

Se alguém te procurar e der sinais de que pensa em suicídio, além da acolhida e oferecer ajuda, jamais diga frases que podem piorar o sofrimento dessa pessoa. Confira:

“Sua vida é melhor do que a de muita gente”:
Não existe disputa para saber quem sofre mais do que o outro. A sensação de desesperança é individual e intransferível.

“Pense positivo”:
Só a positividade não é capaz de motivar o indivíduo na busca por sobrevivência. Apenas não diga isso.

“Se você confiar em Deus, você cair na real”:
A religiosidade pode ter importância na vida de algumas pessoas, mas isso não é unanimidade. Pense que o sofrimento está além da espiritualidade.

“Mas por que você está pensando em se matar?”:
Essa frase, dita em tom ‘especulativo’, pode estar carregada de julgamento e ser devastadora para quem se sente na obrigação de dar explicações, mesmo sem ter um motivo aparente para pensar em suicídio. No lugar, prefira perguntar: “Você gostaria de falar mais sobre isso?”, em tom acolhedor.

“Por que você vai se matar por causa dele (a)? Não vale à pena”:
Essas duas sentenças, embora pareçam desprezar o que seria o motivo do sofrimento, fazem com que a pessoa tenha o sentimento desvalorizado.

“Eu conheço muita gente que pensa em se matar também, mas não faz nada”:
Esse é o conhecido mito de que “quem quer se matar, não avisa”. Especialista são unânimes em avaliar que o indivíduo em sofrimento distribui sinais de que pensa em suicídio. Cabe a sociedade aprender a identifica para ajudar.

“Eu também já pensei em suicídio, mas eu sou uma pessoa forte e consegui superar”:
Dizer que você é forte e que, por isso, superou o pensamento suicida não contribui para aliviar o sofrimento alheio.

“Quem pensa em suicídio tem a mente fraca”:
Não existe “mente fraca” ou “mente forte”. Cada indivíduo enfrenta problemas emocionais de maneira peculiar. Não julgue.

Familiares e amigos podem ajudar

Os familiares podem e devem falar sobre o assunto. O objetivo é tentar avaliar o que está se passando com a pessoa, mas nunca em tom de ‘interrogatório’. É preciso ter uma abordagem acolhedora e sem nenhum tipo de preconceito, em um local adequado, de preferência confortável.

O desejo de se matar precisa deixar de ser tabu para ser sintoma de sofrimento psíquico. É preciso ter disponibilidade para mostrar que nos preocupamos de verdade. É fundamental ouvir com atenção e respeito, sem julgamento ou censura e sem preleções morais ou religiosas. É preciso respeitar a dor do outro. Muitas vezes, podemos achar a motivação banal, mas cada um sente e se angustia com as coisas de forma particular.

Busque ajuda

No Brasil, o CVV oferece atendimento voluntário e gratuito 24 horas por dia a quem está com pensamentos suicidas ou enfrenta outros problemas. “Mesmo que você não tenha certeza de que precisa de nossa ajuda, não tenha receios em entrar em contato com a gente. Um de nossos voluntários estará à sua disposição”, explica a equipe do site.

A organização, uma das mais antigas do País, atua no apoio emocional e na prevenção do suicídio por meio do telefone 188 e também por chat, e-mail e pessoalmente. Confira as opções aqui.

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