psicose

De acordo com Bürgy (2008), foi em 1841 que o alemão Karl Friedrich Canstatt introduziu o conceito de psicose para a literatura psiquiátrica, o conceito era utilizado por ele como sinônimo para o termo de “neurose psíquica”, enquanto o conceito de neurose era inicialmente utilizado para se referir a todas as doenças do sistema nervoso, Canstatt assim enfatizou a manifestação psíquica das doenças cerebrais.

Em 1845, o psiquiatra Ernst von Feuchtersleben foi responsável por empregar pela primeira vez o termo “psicose”, no jornal de psiquiatria e medicina forense. Porém, o termo só passou a ser utilizado na França em 1869 e difundido em toda literatura do século XIX. O grande destaque da psicose foi em 1892 no trabalho de Möbius, o livro O Pinel.

No decorrer deste mesmo século, na língua alemã a psicose aparece para designar as doenças mentais e loucuras conhecidas nesse período por doenças da alma, só no final deste século é que o a psicose foi definida como um termo isolado. Já nos escritos de Freud (1924), em suas correspondências com Wilhelm Fliess encontra-se uma discussão mais clara a respeito da psicose e da neurose.

psicose

Segundo Laplanche & Pontalis (1988) na psicanálise a psicose consiste numa tentativa de recomposição do laço objetal, ela apresenta sintomas essencialmente psíquicos, porém não se nega a hipótese de que a sua causa possa estar no sistema nervoso. Na psicose há uma quebra entre o Ego e a realidade, o que resulta num domínio do Id sobre o Ego, com isso o Ego acaba reconstruindo uma realidade paralela, sendo esta realidade a partir dos desejos do Id, estes seriam os momentos de delírios.

Para Dametto (1981) uma pessoa psicótica sofre pelas suas próprias perdas, sendo estas profundas e referentes somente a ela mesma, como um ataque narcisista. A psicose na opinião de Dametto também apresenta ser hereditária e é desenvolvida dependendo do ambiente em que se vive, por exemplo, se há um psicótico dentro de um grupo familiar pode ser que naquele contexto existem mais pessoas que apresentam estrutura psicótica, não necessariamente que todos os membros da família irão desenvolver algum sintoma, mas se um dia chegar a desenvolver uma doença emocional, possivelmente será dentro da linha psicótica.

Dametto (1981) fala que dentro da psicanálise acredita-se que a psicose refere-se à fase de simbiose e de indiferenciação mãe-bebê. Também menciona que as fases do desenvolvimento emocional, descritas por Melanie Klein, certamente serão diferentes, pois o começo foi diferente. Dametto (1982) aponta que na psicose o que geralmente predomina é a pulsão de morte, dessa forma, quando ocorre um sintoma este é no sentido de destruição, “(…) O psicótico faz qualquer arranjo com a vida para ‘morrer’. O pior arranjo é o de permanecer cronificado, louco” (DAMETTO, C., 1982, p.68).

De acordo com Chemama (1995), a psicose apresenta-se na forma de um processo mórbido, desenvolvido quando houve a falta de uma simbolização. Para Freud na psicose a libido se volta para o próprio sujeito, que não é capaz de sublimar ou ressignificar a libido para outros fins, como nas relações sociais, algo comum para as demais pessoas. Ou seja, a psicose seria a consequência de uma desordem entre o Ego e o mundo externo.

Segundo Freire (1998) dentro da psicose, Freud (1924) se dedica ao estudo da paranoia, ela se apresenta como uma espécie de “mecanismo de defesa” que pode se transformar em projeção, assim o paranoico revela seu desejo através da projeção, o indivíduo só não consegue reconhecer tal desejo como parte de seu eu. Freire cita as principais formas de paranoia, que seriam o delírio de perseguição, erotomania, delírios de ciúme e megalomania.

Freire também fala sobre a distinção de Freud sobre a paranoia e a parafrenia (referente à esquizofrenia), nas duas ocorrem um desatamento da libido objetal, mas sua diferença está no momento em que acontece uma fixação e um retorno da libido a este ponto. No caso da esquizofrenia o indivíduo tende a perder por completo seu interesse em relação ao mundo externo, não havendo substituição da libido em algo fantasioso. O psicótico acaba tomando as palavras como uma coisa real.

Para Freud (1924) a amência seria uma confusão alucinatória aguda, um dos casos mais extremos da psicose, o indivíduo perde a percepção do mundo externo, cessando-a por completo ou deixando tal percepção ineficaz, com isso, o Ego cria um mundo tanto interior como exterior a partir dos desejos do Id. Freud faz uma comparação de tal estado ao sonho normal, porém, ao despertar do sono há a separação das percepções do mundo externo, o que na psicose não ocorre, deste modo, o psicótico não distingue fantasia da realidade. Freud também salienta o fato de que o quadro patológico pode ser de certa forma, encoberto por tentativas de cura da própria pessoa e que o patológico está ligado à rejeição da realidade.

REFERÊNCIAS:

  • BÜRGY, M. The concept of psychosis: historical and phenomenological aspects. Schizophrenia Bulletin, 34(6), 1200–1210. 2008.
  • CHEMAMA, R. Dicionário de psicanálise Larousse. Porto Alegre: ARTMED, 1995.
  • DAMETTO, C. Personalidade psicótica e psicose. Rio de Janeiro: Artes Gráficas, 1981.
    _______. Psicoterapia do paciente psicótico. Rio de Janeiro: Lidador Ltda, 1982.
  • FREIRE, J. M. Uma reflexão sobre a psicose na teoria freudiana. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, vol. I, no. 1, março de 1998, pp. 86-110.
  • FREUD, S. Neurose e psicose (1924). In: _______. Obras completas de Sigmund Freud. VOL. VII. Rio de Janeiro: Delta, 1995.
  • LAPLANCHE, J. & PONTALIS, J. B. Vocabulário da Psicanálise. 3ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1988.

 

Originalmente publicado em: https://psiqueempalavras.blogspot.com

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