A maioria dos pais não sabe bem como agir ao flagrar a criança manipulando os órgãos genitais, se assustam, pois imaginam que a sexualidade infantil se assemelha à do adulto. Embora pesquisas comprovem que crianças chegam ao orgasmo, ele não tem a mesma intensidade que o nosso. Quem reprime a masturbação provavelmente foi reprimido e educado dentro de um modelo em que prevalecia a culpa. Atribui à manipulação genital uma carga erótica que não existe. Essa relação com o corpo persiste até a pré-adolescência, quando meninos e meninas, com as sensações mais apuradas, já vêem a masturbação como fonte de prazer sexual.
É normal uma criança se masturbar?
Essa prática é fruto de uma curiosidade normal, natural, saudável e fundamental para sua maturidade sexual. De acordo com os estudos de Freud, realizados no início do século passado e atuais até hoje, as crianças começam a ter noção de seus corpos e no prazer com a manipulação dos órgãos genitais entre os 4 e 6 anos de idade. É a chamada fase fálica do desenvolvimento psicossexual. Manipular a vagina ou o pênis é uma experiência à qual ela recorre porque proporciona uma sensação gostosa.
Uma criança de 4 anos, por exemplo, começa a perceber as diferenças que existem entre meninos e meninas e a se identificar com a figura do pai ou da mãe. Algumas crianças vão encontrar prazer nesta exploração do corpo, algumas vão descobrir isso mais cedo, outras mais tarde. Algumas vão praticar mais e outras menos.
As crianças, no entanto, ao contrário de adolescentes e adultos, não tem malícia nestes atos, pois essa manipulação é principalmente sensorial (relativa aos sentidos). Sentem apenas que aquela brincadeira é gostosa e relaxante. São os adultos que podem dar, dependendo de seus próprios tabus, um sentido malicioso precoce a esse comportamento.
Para quem tem filhos na adolescência, é bom saber que a masturbação nesta fase da vida é uma combinação entre a exploração do próprio corpo, iniciada na infância, com a explosão de hormônios típica da idade. O adolescente também pode se masturbar de forma saudável, buscando prazer em seu corpo e alívio para a tensão. E por que não?
Na adolescência a masturbação ganha características próprias: Já pode vir acompanhada de fantasias. Nesta fase, o adolescente já sabe o que é sexo, os hormônios estão à flor da pele. É mais do que manipulação, é desejo sexual.
Causa
A masturbação não frequente é um comportamento normal de muitas crianças em idade pré-escolar. Até um terço das crianças nesta faixa etária descobrem a masturbação enquanto exploram seus corpos. Amiúde, continuam masturbando-se apenas porque lhes causa prazer. Algumas crianças masturbam-se com frequência porque estão insatisfeitos por algum motivo, como por exemplo, o fato de terem largado a chupeta. Outros estão reagindo ao castigo ou pressão para que parem de se masturbar.
A masturbação não tem causas físicas. A irritação na área genital produz dor ou coceira e não é uma causa de masturbação. A masturbação acontece mais frequentemente quando uma criança está sonolenta, aborrecida, vendo televisão ou sob estresse.
Evolução prevista
Uma vez que seu filho ou filha tenham descoberto a masturbação, raramente abandonarão totalmente esta prática. É possível que não o façam com tanta frequência se forem resolvidas as circunstâncias associadas de conflito e insatisfação. Aos 5 ou 6 anos de idade, quase todas as crianças podem adquirir um pouco de discrição e apenas masturbam-se quando sozinhos. Na puberdade, a masturbação torna-se quase universal, em resposta aos aumentos bruscos – e normais – dos hormônios e do impulso sexual.
Devo repreender meu filho ou filha por se masturbar?
A resposta aqui é clara: NÃO. Uma conversa sobre masturbação entre pais e filhos não deve ter um tom de repressão. O ato da masturbação pode ser internalizado para eles como algo sujo, proibido e isso vai impactar na vida sexual daquela criança quando ela for adulta.
O mesmo raciocínio vale para filhos na adolescência: Um jovem repreendido pode se sentir invadido e pode compreender de forma equivocada, que sua relação de prazer com o próprio corpo é algo ruim, vergonhoso, o que pode acarretar dificuldades com sua sexualidade e relacionamentos no futuro.
O que fazer caso meu filho ou filha se masturbar na minha frente?
Uma criança que se masturba na frente dos pais ou em algum lugar público, certamente, não tem noção de que o que está fazendo não é apropriado. A criança deve ter assegurados momentos de quietude com ela mesma, sem a presença dos pais ou de outras pessoas. Nestes momentos ela deveria poder lidar com seu corpo, suas fantasias, suas brincadeiras, à vontade. Aprender a ficar só é importante! Logicamente que a masturbação deveria ter lugar e hora e senso de adequação. Vejamos abaixo um exemplo de fazer a abordagem:
A professora de inglês Maria Clara entrou na sala de TV e respirou fundo ao ver os filhos Aninha, 3 anos, e Rafael, 6 anos, mexendo nos próprios órgãos genitais enquanto assistiam a um desenho animado. Retomou o fôlego e, sem demonstrar surpresa, comentou: Oi, criançada, tá gostoso isso aí, né? Mas vocês estavam no quintal e aposto que não lavaram as mãos. Para mexer na perereca ou no pipi a gente tem de estar com a mão limpa, senão pode infeccionar. Que tal tomar um banho e depois continuar com essa brincadeira? Os dois concordaram, pararam de se masturbar, mas adiaram o banho para o final do desenho.
Se estiverem em um ambiente publico trate a situação o mais natural possível sem entrar em pânico, não tenha uma atitude de reprovação ou nojo, e não emita juízos de valor. Retire a criança da situação/local e depois explique-lhe que não faz mal nenhum mexer no nosso corpo. Que é nosso e temos todo o direito de fazê-lo, mas que devemos fazê-lo quando estamos sozinhos, no nosso quarto ou na hora do banho. Diga, por exemplo: “Eu sei que é bom mexer ai, mas deve fazer isso quando estiver sozinho no teu quarto. Por isso é que todas as pessoas andam vestidas e protegem as partes íntimas com cuequinhas ou calcinhas. Até na praia ou na piscina usamos traje de banho, não é verdade?” Depois desvie a atenção dele para outra atividade.
É importante respeitar a exploração da criança e ir orientando aos poucos que isso deve ser feito na intimidade, quando se está sozinho, nunca na frente de outras pessoas. Você pode explicar usando uma comparação para a criança que as outras pessoas não fazem isso na frente dos outros: “Você vê seu pai ou sua mãe fazendo isso na frente das outras pessoas? essas coisas a gente só faz quando está sozinho em nossa casa”.
O que não se deve fazer é algo como chantagem: “Se você não mexer mais aí, vamos tomar sorvete!” A barganha nunca deve ser usada para modificar o comportamento.
Quando a masturbação deixa de ser algo saudável?
Para poder ter mais certezas do que dúvidas nesta questão é fundamental que os pais saibam o que acontece na vida dos seus filhos. Pelo menos, os hábitos, o comportamento, as atividades, o que fazem durante o dia. Só assim algo que saia da normalidade pode ser identificado. Se a masturbação fica excessiva e ocupa todo o espaço de prazer, pode virar uma obsessão. Pode virar uma prática solitária e egoísta. Este é o risco.
Alguns sinais como isolamento, cansaço, baixa energia e dificuldades em se relacionar, podem ser indicadores de um excesso, por isso é tão importante os pais conhecerem muito bem os filhos que têm. Caso tenha dúvidas, o melhor caminho é mesmo procurar ajuda de um especialista, seja o pediatra ou um terapeuta. Alguns pais se sentem à vontade para procurar orientação na escola. Antes de partir para esta alternativa, é bom refletir. A criança pode se sentir muito exposta. O melhor mesmo é resolver a questão em casa. Conversar é sempre a melhor saída. Mas sem repreensão.
Conceitos errados comuns
A masturbação não causa nenhuma lesão nem dano físico ao corpo. Não é anormal se excessiva, a menos que a criança a faça premeditadamente, em lugares públicos, após 5 ou 6 anos de idade. A prática de masturbação não quer dizer que seu filho esteja susceptível demais a se excitar sexualmente, seja promíscuo ou um transviado sexual. Apenas se os adultos reagirem de forma exagerada à masturbação de uma criança e fizerem esta prática parecer algo sujo ou perverso, haverá danos emocionais à criança, por exemplo, sentimentos de culpa e complexos sexuais.
Dicas de como se comportar perante a masturbação de uma criança em idade pré-escolar
1. Tenha objetivos possíveis de alcançar
É impossível eliminar a masturbação. Aceite o fato de que seu filho aprendeu a praticá-la e que ele gosta de fazê-lo. A única coisa que você pode fazer é controlar o lugar onde ele a pratica. Um objetivo razoável é permiti-la somente no quarto dele e no banheiro. Você pode dizer a seu filho, “Tudo bem que você faça isto em seu quarto quando estiver cansado“. Se ignorar completamente a masturbação, sem se importar com o lugar onde ele a pratica, seu filho pensará que pode fazê-lo tranquilamente em qualquer lugar.
2. Não se importe com a masturbação na hora da sesta nem na hora de dormir
Deixe seu filho tranquilo nestas ocasiões e não fique vigiando-o. Não o proíba de se deitar de barriga para baixo e não pergunte se ele está com a mão entre as pernas.
3. Em outras ocasiões, distraia seu filho da masturbação ou discipline-o.
Primeiro distraia seu filho com um brinquedo ou com alguma outra atividade. Se isto falhar, explique a seu filho: “sei que você gosta, e você pode fazer isso em seu quarto ou no banheiro, mas não pode em outro lugar da casa ou perto de outras pessoas”. Quando as crianças têm 4 ou 5 anos de idade, se tornam sensíveis à opinião de outras pessoas e entendem que só devem se masturbar quando estão sozinhos.
4. Discuta este enfoque com o pessoal do maternal ou do jardim de infância de seu filho.
Peça à professora ou à pessoa encarregada de cuidar de seu filho que responda à masturbação dele tentando distraí-lo.
5. Aumente o contato físico com seu filho
Algumas crianças masturbam-se menos, se receberem abraços e mimos adicionais durante todo o dia. Cuide para que seu filho tenha pelo menos uma hora diária de tempo especial com você, e assegure-se de fazer manifestações físicas de afeto durante este período.
6. Erros comuns
O erro mais comum que os pais cometem é tentar eliminar a masturbação por completo. Isto resulta em um conflito, no qual os pais invariavelmente perdem. As crianças não devem ser castigadas fisicamente pela masturbação, nem se deve gritar ou repreendê-las neste aspecto. Não qualifique a masturbação como má, suja, perversa ou pecaminosa, e não amarre as mãos de seu filho nem utilize outro tipo de restrições. Todas estas estratégias produzem resistência e, possivelmente, inibições sexuais mais adiante.
Procure ajuda médica se:
– Seu filho continuar masturbando-se na presença de outras pessoas.
– Suspeitar que alguém tenha ensinado seu filho a masturbar-se.
– Seu filho tentar masturbar outras pessoas.
– Suspeitar que filho não esteja contente.
– Você não pode aceitar nenhuma masturbação de seu filho.