Borderline é um transtorno de personalidade que traz sérias consequências para a pessoa, a seus familiares e a seus amigos próximos. O termo “fronteiriço” se refere ao limite entre um estado normal e um quase psicótico, assim como às instabilidades de humor.

Não é muito frequente. Nos Estados Unidos se considera que 2% da população seja acometida. É muito mais frequente em mulheres (cerca de 76%) do que em homens.

Características Gerais

Aqueles que sofrem do transtorno de personalidade borderline são indivíduos que afastam aqueles de quem mais precisam. Ao tempo que precisam dessas pessoas, afastam assustadoramente as mesmas. São muito exigentes de atenção e são excessivamente manipuladores. Eles têm profundos traços de masoquismo e sadismo e, de forma geral, são como crianças em um corpo de adulto que não toleram limites. Muito imaturos emocionalmente, são impacientes, não sabem esperar, suas recompensas devem ser sempre imediatas, não toleram frustrações e tendem a colocar a culpa sempre em outros.

Isto acontece porque borderlines geralmente foram crianças privadas de uma necessidade básica, especialmente foram negligenciadas em alguma etapa de sua vida emocional que deixaram marcas profundas na personalidade (ex.: Separação dos pais, crianças que foram abusadas sexualmente ou emocionalmente, que sofreram violência física, perda precoce de um ente querido, etc.). Assim, é como se seu desenvolvimento emocional tivesse estacionado drasticamente.

De forma geral, borderlines estão sempre no extremo e fazem análise extrema das situações externas. Eles passam facilmente do “eu te amo” para o “eu te odeio” e seu pensamento é sempre o branco ou preto, mas nunca o cinza. Suas opiniões em relação aos outros, são assim baseadas também, alternando drasticamente entre pessoas “maravilhosas” e pessoas “terríveis”, por isso a frustração é frequente porque o portador do transtorno faz idealizações das pessoas e circunstâncias e estão sempre procurando o “perfeito” e ideal.

Quando suas expectativas não são correspondidas, eles passam drasticamente do perfeito para o terrível. Tudo torna-se monstruoso, mau, péssimo. Portanto, as próprias idealizações desses indivíduos trazem ainda mais enorme instabilidade para eles. Mas caracteristicamente eles têm baixa tolerância às frustrações, porque são emocionalmente hipersensíveis a qualquer estímulo estressante, reagindo sempre de maneira exagerada, com grande dificuldade em controlar fortes emoções.

Por causa da tendência em completamente idealizar ou completamente desvalorizar pessoas, lugares e objetos, os portadores da personalidade limítrofe por vezes podem fazer um mau julgamento de outras pessoas fazendo-se assim se envolver em relações extremamente prejudiciais, que levam a sucessivas crises emocionais.

Para se entender a causa da instabilidade do portador de personalidade limítrofe, há de se entender que existe no borderline um mecanismo denominado “cisão”. Dividem as pessoas como totalmente boas ou totalmente más. Totalmente monstruosas ou totalmente perfeitas. Não existem o meio-termo e a neutralidade, sendo para o borderline, não há “dois lados da mesma moeda”.

Em outras palavras, normalmente toda pessoa, objeto ou ambiente possui um lado bom e lado ruim, ao mesmo tempo. Todos têm seu lado positivo e negativo, ninguém é totalmente perfeito ou totalmente ruim. No entanto, para o borderline esse equilíbrio entre o bom e o mau de um mesmo objeto não existe. Ou é totalmente ideal, ou totalmente terrível. Então, esses indivíduos, de maneira geral, trazem consigo sempre grande instabilidade em seus relacionamentos.

Apesar da dificuldade em nutrirem confiança por outros, quando eles se apaixonam por alguém, podem referir-se a tal pessoa como “perfeita”: tudo a respeito dela é ótimo, bom, bonito e ela merece todo carinho e romantismo do mundo, tratando-a como um verdadeiro deus. No entanto, qualquer deslize (real ou imaginado) percebido pelo borderline, eles podem passar rapidamente para o “terrível”: tudo a respeito do outro é monstruoso, mau, péssimo, odiável, ridículo e merece ser tratado como um demônio e ser punido por isso.

Esses indivíduos são árduos manipuladores. Alguns psiquiatras e psicólogos dizem que borderlines são “pacientes impossíveis”, porque frequentemente são manipuladores, pessoas que buscam atenção, perturbam e irritam, além de não terem capacidade o suficiente para controlar suas condutas. Agridem a eles mesmos e aos demais que tentam ajudá-los.

O paciente borderline para viver em paz precisa encontrar um objeto protetor que nunca o deixe. Para isso, eles testam tais “objetos” (as pessoas) para poderem acreditarem nisso. Tais testes são manipulações, maus tratos, discussões etc. como forma de que isso atesta que, mesmo através de tais caminhos, o borderline nunca será abandonado. Obviamente, isto traz à tona a grande questão da tolerância das pessoas “alvo” do borderline, afinal, dificilmente as pessoas em sua volta têm tamanha paciência para tais manipulações.

Sintomas Gerais

  • Medo de abandono: uma necessidade constante, agoniante de nunca se sentirem sozinhas, rejeitadas e sem apoio.
  • Dificuldade de administrar emoções
  • Impulsividade.
  • Instabilidade de humor. As oscilações de humor do DAB ou TAB – Distúrbio ou Transtorno Afetivo Bipolar duram semanas ou meses, mas os Borderline têm oscilações de minutos, horas, dias. Essas oscilações de humor incluem depressões, ataques de ansiedade, irritabilidade, ciúme patológico, hetero- e auto-agressividade. Uma paciente marca a consulta informando que está super deprimida, querendo morrer. No dia seguinte chega à consulta bem humorada, bem vestida, maquiada, vaidosa.
  • Comportamento auto-destrutivo (se machucar, se cortar, se queimar). As portadoras de Borderline dizem que se machucam para satisfazer uma necessidade irresistível de sentir dor. Ou porque a dor no corpo “é melhor que a dor na alma”.
  • Tentativas de suicídio, mais freqüentemente as de impulso do que as planejadas.
  • Mudanças de planos profissionais, de círculos de amizade.
  • Problemas de auto-estima. Borderlines se sentem desvalorizadas, incompreendidas, vazias. Não tem uma visão muito objetiva de si mesmos.
  • Muito impulsivos: idealizam pessoas recém conhecidas, se apaixonam e desapaixonam de maneira fulminante.
  • Desenvolvem admiração e desencanto por alguém muito rapidamente. Criam situações idealizadas sem que o parceiro objeto do afeto muitas vezes nem tenha idéia de que o relacionamento era tão profundo assim…
  • Alta sensibilidade a qualquer sensação de rejeição. Pequenas rejeições provocam grandes tempestades emocionais. Uma pequena viagem de negócios do namorado ou marido pode desencadear uma tempestade emocional completamente desproporcional (acusações de rejeição, de abandono, de não se preocupar com as necessidades dela, de egoísmo, traição, etc.).
  • A mistura de idealização por alguém e a extrema sensibilidade às pequenas rejeições que fazem parte de qualquer relacionamento são a receita ideal para relacionamentos conturbados e instáveis, para rompimentos e estabelecimento imediato de novos relacionamentos com as mesmas idealizações.
  • Menos freqüente: episódios psicóticos (se sentirem observadas, perseguidas, assediadas, comentadas).

* Vale ressaltar que nem todos os Borderline tem todos estes sintomas.

Comorbidades

  • Narcisismo
  • Transtornos do humor, como depressão nervosa;
  • Transtornos de ansiedade;
  • Transtornos alimentares, como bulimia e anorexia
  • Transtorno de personalidade antissocial ou psicopatia;
  • Abuso de substâncias licitas e ilícitas
  • Violência (não só sexual), abusos e abandono, por causa da impulsividade e da falta de crítica para escolher novos parceiros.

A causa provável é uma combinação de:

  • Vivências traumáticas (reais ou imaginadas) na infância, por exemplo abuso psicológico, sexual, negligência, terror psicológico ou físico, separação dos pais, orfandade.
  • Vulnerabilidade individual.
  • Estresse ambiental que desencadeia o aparecimento do comportamento Borderline.

* Cuidado com conclusões precipitadas do tipo “você foi abusada” ou “você foi aterrorizada”.

Evolução

Geralmente começa a se manifestar no final da adolescência e início da vida adulta. Com o passar dos anos existe uma diminuição do número de internações hospitalares e de tentativas de suicídio. Parece piada de mau gosto, mas é uma realidade estatística: a cada tentativa de suicídio que o Borderline sobrevive, diminui a chance de uma nova tentativa.

Fatores de bom prognóstico:

  • Bons relacionamentos familiares, sociais, afetivos, profissionais.
  • Participação em atividades comunitárias: igrejas, clubes, associações culturais, artísticas, etc.
  • Baixa ou ausente frequência de auto-agressão.
  • Baixa ou ausente frequência de tentativas de suicídio.
  • Ser casada.
  • Ter filhos.
  • Não ser promíscua.

Tratamento

A integração de tratamentos medicamentosos mais psicoterápico trouxe grandes progressos no tratamento do Transtorno Borderline.

Medicação:

O tratamento medicamentoso inclui Estabilizadores de Humor (mesmo que não se trate de DAB) pois eles ajudam a conter a impulsividade e as oscilações de humor. Antidepressivos e Tranqüilizantes não tem a mesma eficácia que teriam em casos de depressões ou ansiedades “puras” mas certamente tem sua utilidade em Borderline.

Embora a medicação seja muito importante, ela é ator coadjuvante. O ator principal no tratamento é a Psicoterapia.

Psicoterapia

Não é uma terapia fácil. O que acontece “na vida real” acontece dentro do consultório: instabilidade, alternância de amor e ódio, idealização e desapontamento com o terapeuta, sedução, impulsividade, etc.

Isso quer dizer o seguinte: o tratamento exige paciência, persistência, disciplina e muito boa vontade. Pacientes gratos hoje podem se mostrar ingratos amanhã. Terapeutas que hoje são vistos como atenciosos e dedicados podem ser criticados e vistos como monstros amanhã

 

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