Sentimentos como raiva e ódio frequentemente são consideradas sensações negativas e prejudiciais, mas você sabia que isso pode indicar que você é mais feliz? De acordo com um estudo publicado recentemente no periódico científico Journal of Experimental Psychology, ser feliz não é ter sentimentos positivos o tempo todo, mas sentir emoções com valor e significado, mesmo que elas não sejam tão agradáveis assim.
A necessidade de sentir-se feliz o tempo todo pode tornar as pessoas cada vez mais infelizes, sugere o estudo.
“Todas as emoções podem ser positivas em alguns contextos e negativas em outros, independente do fato delas serem agradáveis ou desagradáveis”, disse Maya Tamir, pesquisadora da Universidade Hebraica de Jerusalém, em Israel, e autora do estudo.
A pesquisa
Para estudar o impacto de diferentes emoções na felicidade em geral, cientistas da Universidade Hebraica de Jerusalém questionaram 2.324 estudantes universitários de diversos países – inclusive do Brasil – para investigar quais emoções sentiam e quais desejavam sentir. Os participantes também relatam sintomas de depressão e como avaliavam sua satisfação com a vida.
Os resultados mostraram que a maioria dos voluntários, de fato, desejava ter mais emoções positivas do que tinha em sua vida atual, mas esse nem sempre era o caso: 11% dos participantes desejavam sentir menos amor e empatia e 10% queriam experimentar mais ódio e hostilidade.
Emoções negativas
Independente das emoções que almejavam sentir – e do país ou cultura de cada um –, os participantes cujas emoções desejadas, mesmo que negativas, coincidiam com os sentimentos reais mostraram maior satisfação com a vida e menos sintomas depressivos.
Ou seja, quanto mais as pessoas sentem os sentimentos que esperam, maior é o nível de felicidade. “Se uma pessoa não sente raiva quando lê sobre um caso de abuso infantil, ela pensa que deveria estar sentindo isso naquele momento e deseja experimentar essa emoção em ocasiões assim”, explicou Maya à BBC.
Expectativa pela felicidade
Para aqueles que acreditam que a satisfação com a vida está relacionada só a momentos felizes, esse resultado pode parecer um tanto quanto estranho. Entretanto, há momentos em que essa variedade de emoções pode ser útil. Pessoas que não conseguem sair de relacionamentos abusivos, por exemplo, podem desejar amar menos seus parceiros a fim de acabar com o sofrimento.
Segundo a pesquisadora, o estudo sugere que a necessidade em sentir-se (e mostrar-se) feliz o tempo todo, muito presente nas culturas ocidentais, pode tornar as pessoas cada vez mais infelizes, evidenciando os aspectos negativos dessa expectativa constante.
Depressão
Apesar dos resultados, a pesquisa não avaliou se outros sentimentos negativos, como culpa, medo, tristeza e vergonha, têm o mesmo impacto na satisfação com a vida, em geral. “Ódio e raiva podem ser compatíveis com a felicidade, mas não há indícios de que outras emoções desagradáveis também são”, disse Anna Alexandrova, pesquisadora sobre bem-estar da Universidade de Camdridge, no Reino Unido.
Sendo assim, o presente estudo não se aplicaria a pessoas com diagnóstico de depressão e condições relacionadas, por exemplo. Mas Tamir acredita que ele pode ajudar as pessoas a reavaliarem expectativas irrealistas que as pessoas possam ter em relação aos seus sentimentos.
“A pesquisa mostra que as pessoas mais felizes são aquelas que sentem as emoções que querem sentir. Isso significa que se eu sou uma pessoa que considera a raiva algo desejável, por exemplo porque ela ajuda a lutar contra injustiças, é mais provável que eu seja mais feliz se sentir raiva, do que se não sentir.”, explica.
Fonte: http://veja.abril.com.br
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