Medo, angústia, fobia

O medo tem vários conceitos: alarme, acovardamento, ansiedade, angústia, apavoramento, desassossego, enlouquecimento, etc. Freud usava o termo angústia (angust). A angústia tem com o nosso corpo a mais estreita vinculação, como nos é mostrado pela etimologia (do latim angustia): designa um mal-estar psíquico, mas também físico – sensação de aperto na região epigástrica, de bolo na garganta, com palpitações, palidez, impressão de que as pernas vacilam, dificuldade para respirar, em suma, a angústia afeta o corpo.

Com base nos estudos de Freud o medo se dá através da exposição do indivíduo ao objeto fobígeno, a angústia é um estado de expectativa de um perigo ignorado e o terror é quando o indivíduo vivencia uma situação inesperada de perigo. O que é explicado por Abla (2009), ao citar Freud:

Para Freud, o termo medo requer um objeto determinado, em presença do qual algo se sente. A angústia, ele esclarece, designa certo estado de expectativa frente ao perigo e preparação para ele, ainda que se trate de um perigo desconhecido. Freud chama terror o estado em que o sujeito cai quando corre perigo sem estar preparado, com destaque ao fator surpresa. (ABLA, 2009, p. 155)

O medo de alguma forma está associado a um estado de angústia, angústia que castra, tolhe, inibe e reprime, algo que vai muito além do compreendido e manifesto. É na Teoria de Freud sobre o Complexo de Édipo e a angústia de castração que se encontra embasamento necessário para dirimir as dúvidas quanto à temática sobre o medo e a fobia.

O indivíduo fóbico inconsciente tem no objeto fobígeno uma atenção desviada, mascarada, deslocada do real sentimento de angústia que o move, “a representação é recalcada no inconsciente, e o afeto é deslocado, destacado dessa representação à qual estava ligado.” (Vanier, 2006, p. 287)

Explicando como funcionam os conteúdos no inconsciente durante o processo da angústia de castração vivenciada no complexo edípico pode-se dizer que:

Trata-se daquilo que se apodera do menininho diante do amor que sente por sua mãe. Ainda que apareça como perigo interno, esse amor remete a um perigo externo que é o temor imaginário da castração. Não é tanto que a castração possa efetivamente ser praticada, Freud escreve, mas “esse é um perigo que ameaça do exterior, e a criança acredita nele”. Essa crença é determinante. Para as meninas, Freud prossegue, trata-se da angústia ante a perda do amor, “visivelmente um prolongamento da angústia do lactente quando experiencia a ausência da mãe”; remete a uma angústia originária, a angústia do nascimento, que já significa separação da mãe. (VANIER, 2006, p. 287)

“A castração é uma função simbólica que necessita da intervenção de um pai real num momento preciso de estruturação do sujeito”. (Vidal, 1999, p. 218)

“A fobia manifesta ao mesmo tempo uma realização e um fracasso; de certo modo a operação edipiana erra o alvo, uma vez que ao mesmo tempo manifesta e disfarça uma falha na separação”. (Vanier, 2006, p. 291)

A relação com a imagem paterna de alguma forma representa parte na produção da fobia, a ausência do pai mesmo que simbólica pode desencadear esse tipo de emoção.

O medo e/ou a fobia representa um objeto real, forma esta que o inconsciente tem de sinalizar conteúdos mal resolvidos ou recalcados, lacunas na fase fálica compreendida no processo do Complexo de Édipo. Assim “é através de uma crise subjetiva que tem lugar o aparecimento do medo e o objeto que porta este significante está referido a alguma coisa […] real, que funciona com as características de um sinal de alarme.” (Abla, 2009, p. 157)

A relação com a figura paterna ideal, figura protetora, é que direciona a criança durante a fase fálica, período que compreende a idade de três anos e se estende até os cinco anos, podendo ser fundamental no processo de proteção contra o medo e o desenvolvimento das neuroses. “O pai, ou sua figura, protege do medo […] se faz à custa de uma regressão que mantém o sujeito em determinada posição, aquela que Freud qualificava como infantil, mas que pode tomar corpo e constituir uma proteção eficaz contra a neurose”. (Vanier, 2006, p. 294).

O medo está associado de alguma forma ao sofrimento e à angústia. É até hoje um sentimento comum a todo indivíduo. Tem suas representações e significados singulares e representa parte significativa das queixas em consultórios de psicólogos, psicanalistas e psiquiatras.

O medo e a fobia são formas de denunciar as lacunas na passagem do Complexo de Édipo durante o processo de castração. Mascarando o real sentimento de angústia latente, criando um objeto externo para descarregar seus conteúdos, mantendo o objeto real interno, rechaçado no inconsciente.

Por Karla Alessandra de Amorim D’Elía
Leia o artigo na integra: https://psicologado.com

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