Norman Bates é um personagem fictício do romance “Psicose” criado pelo escritor Robert Bloch em 1959. O personagem foi inspirado em um caso real de assassinato, que teve como autor do crime Ed Gein. Bloch de início não procurou se inspirar no caso Gein, mas descobriu anos mais tarde, para sua surpresa, que o seu personagem lembrava muito o verdadeiro Ed Gein. Em 1960 o livro ganhou uma adaptação cinematográfica dirigido pelo mestre do suspense Alfred Hitchcoock, que rapidamente se tornou em enorme sucesso.

Em 2013 estreou um seriado baseado no livro e no filme Psicose, “Bates Motel”. A série é um “prólogo contemporâneo” que retrata a vida de Norman Bates e de sua mãe Norma antes dos eventos retratados no filme de Alfred Hitchcock de 1960. O seriado teve cinco temporadas, sendo que a última terminou em abril de 2017.

Aviso: Contém Spoilers

Um ponto forte mostrado na trama do seriado é a relação entre mãe (Norma) e o filho (Norman). A relação doentia nutrida no ceio familiar torna-se mais visível a ponto que a seria anda, e o Complexo de Édipo fica cada vez mais evidente.

Afinal o que é o Complexo De Édipo?

O Complexo de Édipo é uma formulação usada por Sigmund Freud, baseada da tragédia grega “Édipo Rei”. Resumidamente, a lenda do “Édipo Rei” conta a história de como Édipo assassinou o seu pai e casou com a própria mãe, tendo quatro filhos com ela. Ambos, no entanto, não sabiam que eram mãe e filho. Quando descobriram (através do oráculo), Jocasta, a mãe de Édipo, se suicidou. O rapaz, como punição por não ter sido capaz de reconhecer a própria mãe, furou os dois olhos e ficou cego.

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Freud se apropriou desse mito para explicar o desenvolvimento sexual infantil, onde existe na relação da tríade (pai-mãe-filho) um desejo incestuoso da criança pela mãe e a interferência odiada do pai nessa relação. Para Freud todas as crianças desenvolvem um amor pelo pai ou pela mãe durante a infância. E esse amor é moldado e completamente definido antes do início da adolescência. O “amor” das crianças com seus progenitores se torna algo sentimental, e não sexual. Porém, existem casos em que o filho desenvolve um amor sexual pela mãe. E é aí que a teoria do Complexo De Édipo pode ser entendida.

Alguns dos sintomas do Complexo de Édipo incluí o ciúme que o menino sente da mãe, quando esta está num convívio mais íntimo com o marido, por exemplo. De acordo com Freud, a superação Complexo de Édipo é essencial para que a criança perceba a representatividade do pai na relação, assim como a estruturação da personalidade individual do menino.

Caso não haja uma correta resolução do Complexo de Édipo, este pode acarretar algumas consequências no comportamento do futuro adulto, como: dependência exagerada do sexo oposto, submissão ou opressão.

Norman é mostrado no seriado como o exemplo clássico de Complexo de Édipo, tendo inclusive, assassinado o próprio pai, pois o mesmo estava agredindo sua mãe. Norman conseguiu vencer a disputa com seu progenitor do mesmo sexo, agora sua mãe pertence somente a ele.

Devido ao pouco contato com outras pessoas, Norman acaba por ficar preso num círculo familiar que é patológico; a falta de relação com outras pessoas contribui muito para que sua personalidade seja moldada apenas pela sua mãe. O comportamento ciumento da mãe em relação a Norman também agrava o processo, impedindo que o mesmo canalize seus desejos sexuais para qualquer pessoa se não sua própria mãe.

Embora, em alguns momentos a relação com sua mãe fosse conturbada, podemos ver o mesmo agindo de forma servil na cena seguinte. Norman jamais superou sua mãe em nenhum sentido. Mesmo após a morte da mesma ela continuava viva para ele, influenciando seu comportamento com ordens diretas do que ele deveria fazer. Sua mãe sempre possuiu um comportamento extremamente agressivo e autoritário, realizando punições diversas que acabariam por impedir que Norman pudesse superá-la. Norma Bates era uma mulher forte, ferida pela vida e que teve de criar seu filho sozinha, gerindo um motel falido no meio do nada. Era um mulher tão forte que tornou impossível a missão de Norman de se tornar um adulto completo, livre do jugo parental e ciente de sí e de sua própria identidade.

Com o passar dos anos, Norman se aproxima cada vez mais de Norma. O vínculo cresce desenfreadamente, tanto por parte dele, quanto por parte dela. Uma espécie de paixão surge na cabeça de Norman. Ele percebe que ama a mãe, porém, de uma maneira diferente. Tanto é que, para acabar com toda a confusão que permeia seus pensamentos, ele acaba matando sua progenitora.

Norman sofre pela morte de sua mãe (e grande amor de sua vida), e acredita que parte da alma e memória de Norma ainda vive. Ele guarda o corpo de sua mãe dentro de casa, e cuida do cadáver, a fim de sempre ter a companhia dela. Além disso, Norman “incorpora” sua mãe às vezes, e se passa por ela. Tudo isso é uma mistura de problemas mentais com o complexo teorizado por Freud. Em sua própria mente, Norman se vê como Norma. Um transtorno dissociativo de identidade faz com que ele assuma (de vez em quando) a personalidade da sua mãe falecida.

Obviamente que nem todo Complexo de Édipo “mal resolvido” vá evoluir para algo nesse gênero, no caso no Norman teve agravantes, pois o mesmo já parecia ter uma personalidade psicótica, indicando algum outro problema. Porém embora pareça doentio demais, é possível encontrar personalidades parecidas em criminosos serial killers na vida real. Norman Bates é um prato cheio para os que gostam de estudar sobre psicoses, serial killers e o que os motiva.

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