remedio para dor existencial

Admiráveis os que enfrentam suas dores existenciais, num mundo onde são oferecidas tantas anestesias.

Você precisa ser forte, olha só, um antidepressivo vai te deixar bem, vamos para os bares, “distrair” a sua dor, já vai passar.

Deparei-me um dia desses com um amigo me dizendo que sua irmã lhe trouxe algum conforto diante de uma possível perda, explicando conceitos de doutrinas religiosas, não que isso não seja considerável, mas o que sua fala trazia era uma auto afirmação  “Olhe isso explica, que não devo sofrer!”.

Fugir do próprio sofrimento e também evitar em estar com alguém que esteja sofrendo faz parte de um mundo onde encontramos um espaço maior para prazeres e felicidades planejadas e ainda assim acreditamos nele.

A necessidade de vinculação com o outro frequentemente leva o indivíduo a negação de sua dor, adotando um subterfúgio “mecanismo de fuga” para que continue sendo acolhido. Vivenciar as tristezas pode implicar em outros problemas, como a culpa em estar levando tristeza para o outro, gerando algumas vezes o afastamento social.

Aceitando a contínua existência de perdas e momentos cíclicos em nossas vidas, já me encontro com algumas falas em consultório, de que sim é possível vivenciar a dor com uma certa dose de maturidade emocional adquirida em terapia.

Frequentemente nos deparamos com a notícia de cônjuges que abandonam suas famílias diante de um diagnóstico de doença do parceiro ou do filho, a perda de emprego ou status social, arranjam amantes, se embriagam em bares e até recaem nas drogas. As anestesias existenciais entram em cena.

Atribuir juízo ao caráter é comum nesses casos, entretanto o julgamento rotula, nos tira a chance de auto- avaliação, instigar o sujeito a investigar seu sentimento diante da dor, desenvolver resistência para enfrentamentos em busca de comportamentos mais assertivos é sempre o melhor caminho.

Neste caminho e na busca por assertividade diante dos revezes da vida, consultórios de psicologia estão cada vez mais lotados. São frequentados por pessoas extremamente admiráveis, pessoas que acreditam que pensamentos mudam à medida que nos ouvimos falar sobre nossos comportamentos, trazendo uma tomada de consciência e mudando nossas percepções em relação ao que sentimos, desse modo, reverberando no jeito em que nos comportamos.

Se você conhece alguém que faz terapia perceba-a como alguém que acima de tudo quer facilitar o mundo, agradeça-a por preocupar-se em agregar coletivamente, confie, admire, olhe-a como transformador, participante e responsável por seu próprio crescimento pessoal.

As nossas “verdades” precisam tomar um caminho do não absoluto, falhas, perdas, separações e lutos necessitam de um lugar especial em nossas vidas, é necessário o aprender, o respeitar e o acolher desses momentos, a psicoterapia nos possibilita lidar com as angústias e com a compreensão do processo de humanização.

Para viver nossa história com integridade necessitamos dos tombos das tristezas, raivas, perdas e todo o restante que julgamos ruim. Olhe seu passado e perceba: você viveria tudo novamente, e se tivesse outra chance ressignificaria algumas coisas, é claro, devido a experiência adquirida, é tão simples viver essa máxima que as perdas um dia foram ganhos, que tudo é transitório, e que basta compreender que o pacote do “presente” é perfeito, mas precisamos estar de cara limpa para entender que as vezes não é só um laço que desata como mágica, é preciso desenvolver recursos para desfazer os nós.

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