Não se pode ter tudo na vida, Zigmunt  Bauman falou lindamente sobre isso em sua obra (Amor Liquido), em consonância com a psicanálise fala da angústia gerada em nós, em detrimento a uma escolha. Optar, assumir, cuidar, zelar, diz sobre avanços emocionais e éticos, é o exigido frente a um compromisso. É preciso uma boa dose de audácia e coragem para que se possa deixar o restante partir, há quem se arrependa quando observa as alternativas deixadas para trás indo embora.

Frequentemente nos deparamos com sujeitos “passarinhos”, ora buscam a segurança de serem alimentados em suas emoções na segurança do lar, ora aventuraram-se fora do ninho. Bauman concluiu o antagonismo das duas condições “segurança e liberdade” como gerador de angústia na vida humana.

escolhas

O grande sociólogo entendedor das teorias Freudianas cita que as Redes Sociais possibilitam vivenciar os dois lugares ao mesmo tempo, auto engano talvez, causando a impressão de experimentar liberdade e ao mesmo tempo estar seguro. “Todo esse aproximar-se e afastar-se para longe torna possível seguir simultaneamente o impulso de liberdade e a ânsia por pertencimento e proteger-se, se não recuperar-se totalmente, dos embustes de ambos os anseios.”.

Leia também: A filosofia de Zygmunt Bauman, o pensador da modernidade líquida

É possível que esse impulso seja gerador do aumento da ansiedade em tempos modernos, a procura por sites de relacionamentos, sexo virtual e paqueras denuncia essa hipótese, por vezes trazendo implicações para a vida relacional dos casais, estimulando casos extra- conjugais e separações.

A possibilidade em vislumbrar a liberdade fora da relação é um sonho de consumo de muitos, no entanto fugaz, são necessários vínculos para que se estabeleça a sensação de pertencer ao mundo do outro. Parece que ter uma ligação do tipo casual sem objetivos e sonhos escapa entre os dedos pela falta de pactos feitos ao longo da relação. Sem cobranças, sem vínculos, sem responsabilidades, sem sofrimento com os rompimentos, nada indicará que amanhã estarão juntos, que um cuidará do outro, enfim, as alianças de compromisso não foram realizadas.

Renúncias, são preços de ouro pagas pelas escolhas. Essa lição é aprendida ainda na infância, ao estar diante das muitas alternativas oferecidas através dos brinquedos, a agonia da voz do cuidador dizendo “você pode escolher um brinquedo só!”. Infelizmente o objeto mais interessante sempre está na mão do outro, e o brinquedo a que não temos acesso, é o objeto mais desejado. Para certas crianças crescidas abrir mão de algum objeto é apavorante.

Especulações sobre a felicidade e relacionamentos mais satisfatórios, decorrem desde o descompromisso até o tempo que duram. No mundo atual relação significa prazer, por isso, existem receitas prontas e teorizações arriscadas, relacionamentos com data de vencimento determinadas para início e término, antes que se tornem tóxicos pelo desgaste do tempo, quase não se paga mais o preço do compromisso.

Aceitar as relações como faltantes, geradoras de angústia e conflitos, mas também como, promotoras de recursos e propulsoras do crescimento pessoal e social, pode ser um caminho em direção contrária aos instintos, atribuindo condição distinta de outros animais. Podemos concluir como construção humana lidar com antagonismos, desprazeres e adversidades, já que as escolhas jamais seriam completamente satisfatórias.

Parafraseando “Poeminha do Contra”, de Mário Quintana, e trazendo para o nosso texto com diferente interpretação, diremos então:

Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho, (Atrapalhando minha liberdade)
Eles passarão…
Eu passarinho!

Deixe uma resposta